terça-feira, 30 de dezembro de 2008

E depois do adeus - V (I know it's over)

A canção do fim de uma relação que nunca existiu - obviamente, muito apropriada para o teenager que eu era na altura em que ouvi pela primeira vez, aos 17 anos. Não é preciso ser uma bicha maníaco-depressiva para sentir a força desta canção que me atormentou uns meses valentes... A melhor canção dos The Smiths, "I know it's over"!

I know it's over

And it never really began

But in my heart it was so real

And you even spoke to me, and said :

"If you're so funny

Then why are you on your own tonight ?

And if you're so clever

Then why are you on your own tonight ?

If you're so very entertaining

Then why are you on your own tonight ?

If you're so very good-looking

Why do you sleep alone tonight ?

I know ...

'Cause tonight is just like any other night

That's why you're on your own tonight

With your triumphs and your charms

While they're in each other's arms..."

E depois do adeus - IV (The days of wine and roses)

Nada como ver os mestres após os discípulos. "The days of wine and roses", do primeiro álbum homónimo dos The Dream Syndicate, é a canção do bloqueio. Não interessa o presente, apenas a lembrança dos dias de vinho e rosas...

Everybody says I don't care

But I'm just trying to remember

The days of wine and roses

E depois do adeus - III (California all the way)




Depois da premonição e do rancor, o distanciamento irónico de quem vê tudo do lado de fora. Uma canção muito mais leve, pelos verdadeiros herdeiros dos The Dream Syndicate: Luna, com "California all the way".

A canção é baseada num caso real de uma groupie que se ligou a um dos membros da banda numa digressão e os seguiu até se passar completamente na Califórnia.

Why can't we smile just like we used to

Why don't you figure anymore

Why has my sympathy now turned to malice

It doesn't matter anymore

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

E depois do adeus - II (Trocando em miúdos)

Esta é talvez a canção definitiva desta secção. Chico Buarque no seu melhor, em que a música pontua de uma forma magnífica a letra, de uma mestria espantosa, misturando a desilusão com o rancor. Toda ela merece ser ouvida mas o final é absolutamente brilhante.

Eu bato o portão sem fazer alarde

Eu levo a carteira de identidade

Uma saideira, muita saudade

E a leve impressão de que já vou tarde

O video é adequadamente low profile e transmite a canção de uma forma poderosa.

E depois do adeus - I (Bring it on)



Depois de algum tempo em silêncio, resolvi dedicar uns posts a uma série de canções que sempre me tocou. Os temas versam sempre sobre o olhar para trás, para uma relação que acabou. Não se podem esperar propriamente la-la-la songs...

A primeira é Bring it on, de Nick Cave and The Bad Seeds. Não foi uma canção que me cativasse desde início. Parecia-me muito pop para o negrume habitual do mestre e o video mostrava um grunho horroroso a cantar ao lado. Mas a letra magnífica foi-se entranhando, tal como o violino de Warren Ellis. Até descobri que o grunho é nada mais que o Chris Eckman, dos Walkabouts. Actualmente, é imprescindível no meu leitor de MP3.

This garden that I built for you
That you sit in now and yearn
I will never leave it, dear
I could not bear to return
And find it all untended
With the trees all bended low
This garden is our home, dear
And I got nowhere else to go

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Era uma vez um lobo solitário, acompanhado pela sua cria









Kozure Okami é uma obra seminal da banda desenhada, sendo talvez a principal responsável pelo impacto dos manga nos comics americanos.




Criada em 1970 no Japão pelo escritor Kazuo Koike e pelo desenhador Goseki Kojima, foi uma obra extremamente popular, vendendo mais de 8 milhões de exemplares dos seus 28 volumes. Como cada volume continha mais de 300 páginas, a obra tem mais de 8700 páginas.

O principal responsável pela sua divulgação no Ocidente foi um Frank Miller ainda em início de carreira, que baseou o estilo gráfico de uma das suas primeiras obras-primas, Ronin, na arte de Kojima.



O próprio Miller, na altura idolatrado como semi-deus dos comics após a publicação da sua magnum opus The Dark Knight returns, deu um impulso importante à primeira edição americana, ao criar as primeiras 12 capas. Esta primeira edição americana, da First Comics, ainda chegou às 45 edições, com capas de dois dos expoentes máximos dos 80: Bill Sienkiewicz e Matt Wagner.




Foi a tradução brasileira desta edição americana, com o nome abreviado de Lobo Solitário, que me deu o primeiro contacto com a obra. O chamariz era mesmo a capa do Miller, pois qual seria o interesse de comprar uma coisa a preto e branco e com meia dúzia de páginas, quando a manga estava muito longe de ser culto, quanto mais mainstream. O impacto foi brutal: um estilo completamente diferente do ocidental, tanto da escola franco-belga como da escola americana. Lembro que isto foi muito antes de Akira ou das obras de Miyazaki no cinema, pelo que a descoberta da nova estética era mais impressionante.




Primeiro, o respirar. Muitos dos painéis não eram usados para descrever a acção, como no Ocidente, mas sim puramente para descrever o ambiente ou dar conotações simbólicas à narrativa. Esta é uma das razões para que os manga sejam tão grandes - esta técnica permite uma leitura mais rápida.


Depois, a maturidade do argumento. As narrativas não eram lineares. A origem, em vez de ser a primeira história, só aparece quando já foram contados quase uma dezena de contos. O desenvolvimento dos personagens, muito longe do ortodoxo e do estereótipo. Personagens bens definidas em poucas páginas. Personagens femininas que não são reduzidas a donzelas em apuros ou machos com mamas. A utilização abundante mas não gratuita do sexo e da violência.



Seguidamente, a cinética do desenho. Os painéis alteravam-se em função da acção. O movimento não era dado por linhas estilizadas mas por linhas vivas que cobriam tudo.




Também uma diferente distribuição dos painéis, usando muito mais vezes a transição vertical que a horizontal.




E essencialmente os dois personagens principais: o paradoxo de um assassino, de um renegado, levar o seu filho nas suas caçadas, onde por vezes é um isco, por vezes um caçador, por vezes uma testemunha impassível ou envolvida. Esta destruição do estereótipo é o que humaniza as personagens e a história.




As diferenças são muito melhor explicadas na obra seminal de Scott McLoud "Understanding Comics". Mas é uma obra muito mais próxima de uma estética do cinema japonês (Kurosawa, Kitano) do que de uma banda desenhada ocidental.




As edições em português não chegaram aos dedos de uma mão. No ano 2000, a editora canadiana Dark Horse resolveu relançar a edição americana mas agora na sua forma integral e respeitando a cronologia original. Contudo, por ser impossivelmente caro fazê-lo no formato original, a edição vem num formato livro de bolso. Serve para conhecer a série mas acaba por ser como ter contacto com um filme apenas pela sua apresentação em DVD: a adesão é muitas vezes mais intelectual que emocional, pois vemos que existem coisas que teriam um impacto muito superior no formato original. Já está concluída e disponível nas livrarias online e nas FNAC, Tema, BDMania, etc. E quem tiver curiosidade pode ver os scans disponíveis nos torrents, que podem ser lidos com o CDisplay.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

A reportagem que não deixa mais nada para dizer sobre o Iraque




Já tudo se disse e falou sobre o Iraque. Passou a fazer parte da paisagem mediática e nós já nem registamos as mensagens que passam.


Morreram umas dezenas de pessoas em Bagdad? Deixa lá, são iraquianos e aparentemente destinados a isso. Tudo é anónimo e envolto na neblina do rotineiro. Já não se conseguem associar os significados às palavras.


Por isso esta reportagem é importante! Descobri-a no site dos Radiohead enquanto fazia o download do seu último álbum "In Rainbows", que eles acharam por bem vender na net pelo preço que o ouvinte queira pagar (mesmo sendo 0 €, como foi o meu caso).


É uma reportagem que humaniza as vítimas e as torna reais, através da voz e dos relatos dos militares americanos que lá estiveram. É nítida a sensação de que já não existe qualquer relação entre o papel das tropas e a missão que continua a ser propalada.


Não me interessa mais falar das causas da guerra e da ocupação e se a situação actual é melhor ou pior que a anterior. E é óbvio que a saída das tropas deixará o país num estado de perfeito caos, com todas as organizações da sociedade excessivamente frágeis e imberbes para resistir ao tumulto. Mas, depois de se ler isto, é impossível escapar à conclusão de que quanto mais tempo ocorrer este tipo de ocupação de um país islâmico por um país cristão (deixemos o ocidental de lado, pois houve muito de cruzada no modo como foi feita a guerra), piores serão os danos para a credibilidade do nosso modelo de sociedade no mundo islâmico.


A racionalidade foi substituída por uma racionalização mecânica, apoiada no cumprimento restrito dos protocolos muitas vezes treinados e na objectização do outro, do desconhecido, do árabe.


Já não há saída!